Jessé dormiu durante seis dias em frente a UPA do Bairro Vila Velha enquanto pai estava internado aguardando leito de UTI.
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Jocélio ao lado de dois dos seis filhos. — Foto: Arquivo pessoal
Após catorze dias internado com o novo coronavírus, Jocélio da Silva, de 62 anos, não resistiu e faleceu na manhã de quinta-feira (21), no Hospital Leonardo da Vinci, em Fortaleza. O filho do idoso, Jessé dos Anjos, dormiu na calçada da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Bairro Vila Velha por seis dias para acompanhar o pai. Ele também empreendeu busca por um leito de UTI para o idoso, que tinha comorbidades como hipertensão e diabetes.
Jocélio foi transferido para um leito de UTI no Hospital Leonardo da Vinci, que recebe apenas pacientes com a Covid-19, na madrugada do último dia 14.
Para a família, fica o sentimento de tristeza e desgaste, por toda a batalha pela qual passaram nesses últimos dias. “Ele aceitou [ser internado] com a condição que eu não ia deixar ele lá, sozinho, de jeito nenhum. Eu prometi para ele que logo logo ele estaria em casa e agora estou levando meu pai para o cemitério”, lamenta o filho.
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O idoso ficou na UPA à espera de leito em UTI — Foto: Arquivo pessoal
Alerta para a doença
“Espero que o exemplo do meu pai sirva para abrir os olhos dos seus, sirva para salvar a vida de outras pessoas, e quem sabe também para as pessoas perceberem a necessidade de serem mais família, se cuidarem mais. Eu espero que isso sirva [de exemplo] para o bem de alguém”, frisa o universitário.
"Muitos não acreditam ainda [na Covid-19], até parentes mesmo não acreditavam na seriedade dessa doença. Levam na brincadeira”, diz Jessé.
O sentimento de dor aumenta, ainda mais, por não poder se despedir de forma digna do idoso. “Eu queria dar um velório digno a meu pai, um sepultamento digno e honrar meu pai, que sempre foi uma boa pessoa, um trabalhador, sustentou seis filhos, construiu casa para cada um de seus filhos. Ele foi um pai excelente”, pontua.
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Jessé dormiu seis noites em frente à UPA do Bairro Vila Velha. — Foto: Reprodução
“[Mas] hoje a gente vai enterrar meu pai de uma forma não tão digna, porque essa doença não deixa”, lamentou. O sepultamento de vítimas da Covid-19 é feito com caixão lacrado, para evitar contaminação dos presentes no local.
“Eu quero dizer para gente nunca deixar para depois, o perdão. Pedir perdão, liberar perdão, dizer que ama. Nunca deixar para depois, nunca ir dormir com uma mágoa, com ressentimento no coração. Principalmente em relação a nossa família. Do nada a gente vai acordar e tudo vai ter mudado e não vai dar tempo da gente dizer tudo o que queria”, conclui.
Coronavírus no Ceará
O Ceará registrou 31.147 casos de pessoas infectadas com o novo coronavírus, e um total de 2.043 óbitos por Covid-19, de acordo com a plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde (Sesa), atualizada às 14h26 desta quinta-feira (21). Fortaleza, epicentro da pandemia no estado tem 18.480 pessoas com a doença e 1.412 mortes.
O município de Caucaia, na Grande Fortaleza, soma 1.078 casos confirmados de Covid-19 e registra 51 óbitos em decorrência da doença. A cidade é a mais afetada pelo novo coronavírus no Ceará, depois da capital cearense .
A quantidade de casos investigados do novo coronavírus (SARS-CoV-2) é de 43.075 e em todo o estado houve a recuperação de 18.254 pessoas.
Os números apresentados pela Secretaria da Saúde são atualizados permanentemente e fazem referência à disponibilidade dos resultados dos testes para detectar a presença dos vírus, ou seja, não necessariamente correspondem à data da morte ou do início da apresentação dos sintomas pelo paciente.
Por Isabella Campos, G1 CE